HAM Entrevista: Dra. Maria Romilda Maltez
- Publicado em 15/03/2021
- Aristides Maltez, Combate ao câncer, HAM, Hospital Aristides Maltez, LBCC, Liga Bahiana Contra o Câncer, Oncologia, SUS, Voluntariado
Desde 2020, a 1ª vice-presidência da Liga Bahiana Contra o Câncer (LBCC), mantenedora do Hospital Aristides Maltez (HAM), é ocupada por Dra. Maria Romilda Maltez. Presente na história do hospital e hoje com atenção exclusiva às atividades da 1ª vice-presidência, Dra. Maria Romilda conta um pouco da sua história de vida, que se entrelaça desde muito cedo com a do HAM, sua relação com a medicina e, claro, com a instituição onde atua.
Por favor, fale um pouco sobre a sua formação e trajetória dentro e fora do HAM.
Dra. Maria Romilda: Bom, acho que posso dizer que quase nasci aqui… O HAM começou em 1952 e nasci em fins de 1953. Meu pai dedicava todo o tempo possível ao hospital. Como professor doutor, teve uma vida acadêmica invejável, emprego público e vasta clientela em consultório privado, mas estava sempre no HAM, lutando por sua existência e, com especial denodo, por sua excelência científica. Ele e os outros cirurgiões operavam nas madrugadas porque durante o dia exerciam as atividades remuneradas que lhes propiciavam o sustento. Naquela época não existia Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) nem Sistema Único de Saúde (SUS) e o hospital era mantido por doações, campanhas e subsídios que as instâncias governamentais aportavam, de modo irregular, quase que ao seu bel-prazer. Foram tempos muito, muito difíceis.
Assim, minha infância e adolescência, como as dos meus irmãos, transcorreram por entre as dependências do hospital. Encontrei outro dia um velho recorte de jornal, onde algumas crianças – dentre as quais eu estava, aos 5 anos de idade – diziam o que gostariam de ser quando crescessem. E a minha resposta infantil, estampada na velha folha amarelado do jornal, era incrivelmente atual: “Quero ser médica como meu pai para ajudar as pessoas como ele faz”. Este foi o mote da minha vida.
Comecei a cursar, ao mesmo tempo, Medicina e História, mas tive que abandonar o curso de História porque casei-me aos 19 anos, estudante, tive 3 filhos e a faculdade de Medicina requer dedicação praticamente exclusiva. Sem o apoio da minha mãe dificilmente teria conseguido a proeza. Fiz curso de especialização em Onco-ginecologia no HAM (existia, então) e aí trabalhei por 20 anos. Fui professora concursada da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Faculdade Bahiana de Medicina, fiz doutorado em cirurgia na UFBA e atendia em consultório na CAM.
Em 2001, decidi parar de exercer Medicina, descasei, estudei um pouco de Psicologia, cuidei de netos (tenho 5, a mais velha com 20 anos).
Há alguns anos, retornei à LBCC como voluntária para dar continuidade à vontade da menina de 5 anos que queria ajudar as pessoas. Participei e participo das dificuldades, das inquietações, das conquistas, das esperanças e das alegrias desta instituição querida.
Médica e desde 2020 também 1ª vice-presidente da Liga Bahiana Contra o Câncer (LBCC). Quais são as necessidades da Liga hoje?
Dra. Maria Romilda: A grande necessidade e também preocupação é manter e gerir o hospital para prestar a melhor assistência possível aos nossos pacientes carentes. O HAM é o filho dileto da Liga. E ainda bem que é o único! É uma tarefa hercúlea porque depende do SUS, de ajuda da sociedade e da sensibilidade dos governantes das esferas municipal, estadual e federal. A outra necessidade é a de melhorar cada vez mais o atendimento através de investimento em recursos humanos, capacitação dos colaboradores, gestão, atualizações técnico-científicas, aquisição de ferramentas e equipamentos de última geração, aprimoramento do campo de ensino, implementação de pesquisa, otimização do espaço físico. Tudo o que aprimore a qualidade da assistência porque o HAM é, no momento e acima de tudo, um hospital de assistência. Ensino e pesquisa são consequências – importantíssimas, sim, mas consequências. O grande e crescente número de pessoas que precisam de atendimento no HAM não deixa muito espaço para grandes investidas outras no contexto atual. Oxalá o futuro nos permita voos mais amplos!
A senhora, que é dessa família que já faz parte da história do nosso país, como se sente dando continuidade a essa herança que impacta tantas pessoas?
Dra. Maria Romilda: Responsabilidade imensa! Penso sempre: “Será que vou dar conta?”. Tomara que sim porque a obra (não o nome) é meritória, grandiosa, de enorme utilidade para a parcela mais necessitada da nossa gente. Como o trabalho é árduo, o primeiríssimo requisito para se fazer parte da Liga é amar a causa ou, ao menos, com ela identificar-se sem segundas intenções. Fidelidade inconteste à filantropia é a expressão de ordem. Ao longo da existência da Liga sempre tem havido um Maltez em atividade. O legado do meu avô – e para mim, em particular, também o de minha avó Romilda e de meu pai Carlos – é um apelo forte, visceral. Os dirigentes da Liga não têm retorno financeiro e a motivação é o desejo de servir, de ajudar. Comprometer-se por convicção, por amor ao serviço!
O que é a LBCC e o HAM para Dra. Maria Romilda Maltez?
Dra. Maria Romilda: Seria exagero dizer que é minha vida, já que há várias dimensões em
uma vida. No entanto, digo que nos anos em que fiquei afastada do hospital, mesmo atendendo, operando, ensinando e defendendo tese de doutorado em outras plagas, senti-me meio que um peixe fora d’água… A grande motivação da minha vida em termos profissionais e de ideal foi e é a Liga e o HAM.
Estava nos seus planos compor a gestão da LBCC?
Dra. Maria Romilda: Não. Como eu não sou muito sociável e nem tenho habilitação formal em administração, sempre pretendi estar presente “nos bastidores” da Liga. Preocupava-me bastante com a sucessão de Dr. Aristides por conta da missão filantrópica do HAM, mas não pensei em estar em evidência, ocupando uma posição de vice-presidência.
Dr. Aristides Maltez Filho, presidente da LBCC, sempre que tem oportunidade menciona a senhora como sucessora dele. Como se sente com essa expectativa?
Dra. Maria Romilda: Que ele ainda fique muito, muito tempo na presidência! Esta é a minha expectativa maior. O hospital é o que é hoje, mesmo com as dificuldades, por causa dele. A sua enorme experiência, o seu entusiasmo e a sua memória prodigiosa fazem dele o pilar-mór da Liga atual. Idade cronológica parece não influir muito no seu cotidiano. Pretendo aprender, vivenciar e assimilar o máximo que puder no seu convívio. Esperamos que ele se torne centenário e em plena atividade na Liga – e que eu não precise assumir tão cedo!
A presidência e vice-presidência da LBCC vêm sendo representada majoritariamente por homens. A senhora considera que ser mulher e agora ocupar esse cargo tem uma representatividade maior para a instituição?
Dra. Maria Romilda: Na verdade, já houve, recentemente até, duas vice-presidentes na LBCC. Foram elas: Alice Maria Ribeiro Marigliano e Solange Vianna Ribeiro dos Santos. Eu nunca percebi e não vejo diferença alguma quanto à preferência de gênero na presidência da instituição. Considero que foram oportunidades e merecimentos que proporcionaram a presença feminina. Assim como certamente teremos novos ensejos para que outras tantas mulheres ocupem cargos diretivos. Aliás, o Conselho Deliberativo da LBCC, de onde sai o candidato a presidente, é composto por cerca de 40% de mulheres. Qualquer uma delas, sócias que são, pode vir a ser presidente da instituição.
Quais são os seus planos para a LBCC e para o HAM em 2021?
Dra. Maria Romilda: Aprender tanto quanto puder com Dr. Aristides e com as diretorias atuais (HAM e LBCC), estar mais próxima do ambiente do hospital e me habilitar melhor para a função. O grande escopo da presidência da Liga é, hoje e sempre, o de cultivar, regar, adubar e nutrir o grande carvalho da filantropia, a que se referiu meu avô, e sob cuja sombra viceja o HAM, para proporcionar acolhimento, segurança e cuidado a todos quantos baterem às nossas portas em busca de atenção oncológica.
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