O papel da Psico-Oncologia no processo de enfrentamento do câncer
- Publicado em 28/01/2019
- Câncer, HAM, Hospital Aristides Maltez, Oncologia, Psico-Oncologia, Psicologia
Receber o diagnóstico de câncer nunca será fácil. E sempre vem associado com uma forte carga emocional, que envolve a tríade paciente-familiar-equipe. O processo oncológico sempre vem associado à morte e ao sofrimento físico, comumente relacionado à dor e degradação, o que passou a simbolizar para as pessoas uma patologia que traz um intenso abalo emocional e físico que acaba por afetar toda uma estrutura familiar. Rotulada como uma doença dolorosa e mortal, o paciente comumente vivencia no tratamento, que geralmente é longo, perdas e sintomas variados, ocasionando prejuízos, muitas vezes irreparáveis.
O paciente com câncer, em virtude de sua vulnerabilidade, não traz uma demanda apenas biológica, traz também uma demanda psicológica e social, uma vez que receber o diagnóstico de câncer pode acarretar mecanismos de isolamento e de negação da doença, ou até mesmo uma forte resistência em iniciar o tratamento.
A Psico-Oncologia é a especialidade que procura oferecer ao doente, à família e à equipe o suporte emocional para o enfrentamento da doença. Em sua prática, o Psico-Oncologista visa o bem-estar emocional do paciente, contribuindo assim para uma boa qualidade de vida em todos os estágios do tratamento, por isso faz-se necessário a presença deste profissional no cuidado a pacientes oncológicos, o que favorece a comunicação médico-paciente e a adesão ao tratamento.
“A Psicologia Hospitalar é o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento”.
Simonetti (2004, p.15)
Neste caso, a psicologia não trabalha com fatores que desencadeiam a doença e sim com os aspectos a ela relacionados e com a subjetividade do sujeito buscando identificar os aspectos psicológicos que se manifestam frente a suas fantasias, medos, desejos, emoções, crenças, frustações, etc., e que tenham relação com a enfermidade. Entre os objetivos está a valorização dos aspectos subjetivos intrínsecos muitas vezes negligenciados ao longo da vida e que, uma vez despertados, contribuem para o fortalecimento da autonomia e resiliência no enfrentamento.
Compreender o processo de adoecimento, o que é a doença a qual está acometido, seus tratamentos, possibilidades de cura ou paliação, esclarecimentos em torno da hospitalização e internamento também são questões que necessitam de atenção específica. Cada sujeito tem sua forma de enfrentamento, por isso é importante considerar aspectos sociais, emocionais, familiares e religiosos, uma vez que cada um tem sua história de vida e precisa e deve ser respeitado, principalmente visando contribuir para o fortalecimento do vínculo entre o psicólogo, paciente e cuidadores, sendo importante fator para estabelecer as estratégias de enfrentamento no processo do adoecer junto à equipe multiprofissional.
Dentro dessa dinâmica, o paciente não está só, vem com a família e outros cuidadores também inseridos tanto quanto ele mesmo em seu processo do adoecer. Alguns familiares e/ou cuidadores muitas vezes, dominados pela ansiedade e negação da doença do paciente, se tratando de câncer, ficam ainda mais fragilizados diante do estigma que se estendeu ao longo da história, de ser uma doença incurável, e por isso não compreendem o discurso frente ao diagnóstico, dificultando a adesão ao tratamento e condutas próprias da hospitalização. O psicólogo é uma ponte que contribui para o fortalecimento da tríade paciente-família-equipe de saúde, levando à equipe uma melhor compreensão das repercussões emocionais que podem desencadear no sujeito adoecido e sua rede de apoio, permitindo olhar cada paciente em sua singularidade, respeitando seus limites no dia a dia durante o acompanhamento do tratamento.
A compreensão do adoecer oncológico ainda é um desafio no lidar diário da hospitalização e tratamento. O paciente com câncer muitas vezes expressa sentimento de raiva, revolta e tristeza profunda que pode desencadear um quadro depressivo, culpa, etc., antes, durante e depois do adoecer que, se não lhes forem dadas a devida atenção podem ser fatores capazes de interferir no enfrentamento da doença. O psicólogo contribui para estabilidade emocional e encorajamento do paciente para se adaptar a melhor forma de conviver com a nova realidade de vida.
A internação muda a rotina de vida de todos os envolvidos, por isso é importante trabalhar as novas possibilidades de adaptações, seus ganhos secundários, rotina de visitas, avaliações de visitas de crianças e seus benefícios para ambas as partes, visando contribuir para a qualidade de vida do paciente nesse processo.
O psicólogo é o profissional que atende à necessidade de escuta ao paciente, sem julgamentos nem interpretações prévias, considerando a vulnerabilidade e fragilidade diante de um adoecer ainda permeado de fantasias que dificultam a compreensão do julgamento da realidade e as possibilidades de um bom enfrentamento.
A doença ao ser entendida como símbolo se torna um arsenal de informações, porque primeiro mostra o aspecto objetivo, concreto e consciente desse processo. Ao mesmo tempo expressa um significado psicológico muito profundo e inconsciente de um ser humano.
Roseani de Sousa
Psicóloga CRP 03/13811
Hospital Aristides Maltez
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